RIO DE JANEIRO (O REPÓRTER) - Nascido em Duque de Caxias, cineasta, rapper e estudante de jornalismo, Cacau Amaral de 36 anos dirigiu, juntamente com Rodrigo Felha, o curta Arroz com Feijão, um dos episódios do aclamado 5x Favela. Em entrevista exclusiva a O Repórter, ele conta detalhes de sua carreira e opina sobre o cenário cinematográfico brasileiro.
Início no cinema
Eu tinha um grupo de rap, o Baixada Brothers, e estávamos na correria para gravar um vídeoclip. Acabamos percebendo que seria melhor se nós produzíssemos o clipe. Aí entrei no curso de audiovisual da CUFA e me interessei, de lá pra cá já são dez anos.
Origens
Fui criado no bairro Centenário em Duque de Caxias, meu pai era gráfico, minha mãe costureira. No meu bairro, o cara terminar o ginásio já pode se considerar formado. Por conta disso, demorei bastante pra estudar, só agora estou fazendo faculdade. A convivência na rua foi a maior escola pra mim, é de lá que vem a cultura que tenho hoje. Isso me ajuda nos filmes.
5xFavela
Cacá Diegues foi meu professor de cinema e o convite partiu de um telefonema dele. Eu estava indo para Paraty passar o Carnaval e ele me perguntou se aceitava dirigir o próximo projeto dele. Claro que topei! A partir daí comecei a pesquisar sobre o tema, agente já tinha o roteiro do Arroz com Feijão pronto e a coisa engrenou.
Divulgação da Mídia Especializada
A mídia divulga o seu trabalho a partir do momento em que você paga por ela ou começa a fazer muito barulho. O 5x Favela, por ter uma parceria com grandes distribuidoras, foi mais difícil divulgar.
Cinema Brasileiro
O cinema brasileiro não é uma entidade a quem você possa designar uma responsabilidade. Ele é um conjunto de muitas pessoas: eu, você, o público. O buraco é mais embaixo pra quem controla o cinema, tudo parte do perfil do público, se o público exige uma certa cinematografia, o cinema vai caminhar para aquele lado. Se acontece o contrário, o mercado é quem vai domar aquilo ali. É uma equação muito complexa, o cinema não é uma pessoa malvada, ele é o resultado de nós, brasileiros.
Mentalidade do Povo Brasileiro
Não só o cinema, mas a política de uma maneira geral, está caminhando para uma coisa mais democrática. As eleições são o exemplo disso, a mídia centralizada não consegue mudar tanto a opinião das pessoas quanto em tempos atrás. Hoje temos a internet que é um espaço de interação incrível, não é uma comunicação unilateral. É mais fácil a população participar da política do país do que antigamente e, o cinema, não é diferente disso.
Cinema Brasileiro sob a ótica estrangeira
Nas duas viagens que fiz pra fora do Brasil, a impressão que tive foi bem parecida: o estrangeiro só conhece Cidade de Deus. Na França ainda ouvi falar um pouco de Tropa de Elite. Em Chicago, é só Cidade de Deus e Lula, talvez pelo fato de a cidade ter concorrido à sede das Olimpíadas de 2016 com o Rio de Janeiro. Percebi um público de braços abertos com 5x Favela, as pessoas ficavam com os olhos marejados, falando que aquele cinema era um cinema diferente, como se no Brasil não houvesse filmes desse tipo. O mercado acaba selecionando demais, isso faz com que tenhamos poucos representantes do Brasil no exterior.
Realidade Brasileira
É um cotidiano que nós gostamos de mostrar. Antes de fazer 5x Favela, eu estava insatisfeito com os filmes que estava assistindo. Era uma realidade muito rasa, não quero dizer que é mais ou menos verdadeiro. Nós optamos por mostrar coisas que ainda não haviam sido mostradas, tanto pelo teor de ineditismo, quanto para nos sentirmos mais representados. 5x Favela é um filme de ficção, mas baseado numa realidade que vivemos a vida inteira e tínhamos muita sede de mostrar.
A Busca pelo patrocínio
O empresário não quer nem ver a sua cara, quase todos os meus projetos são independentes e mesmo com o Cacá Diegues captando recursos para o 5X Favela, quando ele falava que o filme seria dirigido por cinco novos diretores a tendência era o patrocinador não investir. Das empresas que se negaram a patrocinar, no mínimo uma delas está arrependida.
Novos Projetos
Meu sonho é conseguir viver só de cinema, o mercado está complicado. A maioria dos meus amigos tem que ter outras atividades para poder se sustentar. O filme que eu gostaria de fazer é sempre o próximo, o maior inferno pra mim seria ficar satisfeito com esse filme. A minha carreira no cinema só vai acabar quando eu morrer, tenho alguns projetos parados, mas agora estou pegando todos eles, vendo o que está mais compatível com o mercado e resolvendo o que apresentar aos patrocinadores, acho que agora vai ser mais fácil bater na porta deles.
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