sexta-feira, 23 de julho de 2010

Salve ao cinema

Estamos há alguns minutos da cerimônia de encerramento do III Festival de Paulínia. Deu um tremendo frio na barriga. Senti isso pela primeira vez na Mostra do Filme Livre, no Rio, em 2005, onde recebi o prêmio de melhor curta por “1 Ano e 1 Dia”, meu primeiro curta. De lá pra cá foram 51 festivais e ainda não consigo acostumar.

Agora começou a premiação em Paulínia. Ganhamos o prêmio de melhor filme segundo o júri popular. Estou com minha filmadora ligada. Não sei se desligo, se a levo pro palco, se entrego à mina da produção. Discursos inflamados, sorrisos. Toda equipe em cima do palco. O teatro é enorme, está lotado. 1000 pessoas? Não sei. Minha perna treme. Fotos. Fotos. Nos sentamos e segue a premiação. Receber o prêmio do júri popular é o maior pagamento que poderia receber. Não me canso em repetir que não fazemos filmes pra ganhar prêmios, fazemos pro público. Se o próprio público nos premia… Não tem preço.

Mais um prêmio. Desta vez melhor trilha sonora. Mal nos sentávamos e os mestres de cerimônia anunciavam outro prêmio; melhor montagem; melhor atriz coadjuvante, Dila Guerra subiu ao palco pra receber. Melhor ator coadjuvante. Gritei para Dila “Nem volta. Já pega o do Márcio Vito”. Depois foi a vez de Rafael Dragaud subir ao palco. Melhor roteiro.

Nossos parceiros não ficavam pra trás. Vira-e-mexe Bróder subia ao palco pra receber um, dois, três prêmios. Esse filme pra mim é como se fosse o próprio 5x favela. Jeferson D é um dos caras que mais admiro no cinema brasileiro. Fora isso ainda tem dois atores que fazem ambos os filmes, a Cíntia Rosa e Sílvio Guindane. Este último me deu um monte de alegria no fim de semana ao declarar em público que Arroz com feijão parece inofensivo, mas é uma critica social dura.

Pra fechar, o prêmio maior da noite: Melhor filme segundo o júri oficial. Recebemos sete prêmios no total. Com mais quatro do Broder são onze vezes periferia.

Na festa após a cerimônia, após todos irem embora; eu, Felha e Jeferson brindamos e filosofamos sobre passado, presente e futuro do cinema brasileiro. Concordamos que vivemos um momento ímpar. Nossa geração encerra a primeira década do século XXI, desta vez por trás das câmeras. Como seria daqui a outra década? Existe um movimento iniciado por um monte de vidaloka. Cacá Diegues comprou essa briga há um tempo. Paulínia comprou a mesma briga hoje. Desejo um brinde a todos que botam a cara e quebram paradigmas. Um salve ao cinema!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Crianças de 30

Os três primeiros filmes que realizei em minha vida foram documentários. Por isso me considerava um pouco distante da arte da interpretação. Um dia, em uma aula de direção, na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, não havia atores pra dirigirmos e me ofereci pra ser dirigido pelos colegas de classe. A dificuldade em entender o que os diretores queriam comigo me fez perceber o quanto é importante a comunicação entre essas duas figuras, diretor/ator.

Trabalhava a alguns anos na Cia de Teatro Tumulto, fazendo trilhas sonoras, e por isso tinha a faca e o queijo. Em dois anos participei de duas peças, atuando, e essa rotina de ensaios, jogos, etc; me fez penetrar nesse universo complexo que é a cabeça do ator e da atriz. Essa pequena experiência permitiu-me entender melhor o que seria a direção de atores.

Vivi um momento intransferível em 5x favela, que foi dirigir os atores mirins Pablo (9) e Juan (11). No primeiro ensaio, eu e Felha ficamos morrendo de medo. Alguns dias antes, um amigo disse que ensaiar crianças é como filmar de um helicóptero sobre o chão de terra. Você passa horas e horas jogando água pra não levantar a poeira e se não fizer essa tarefa bem feita, se não molhar o chão como se fosse a última coisa que faria em sua vida, na hora de filmar a poeira levantará e você perderá todo o trabalho. Dirigir crianças é como filmar com helicóptero: você deve se dedicar por inteiro a essa tarefa. Um pequeno deslize pode custar todo um trabalho de preparação.

Por essas e por outras resolvemos brincar. Não sei se foi por falta de opção, por não conhecermos outras técnicas, se foi a mão invisível do cinema, ou se somos fodas mesmo; mas sei que a cada ensaio brincávamos mais e mais. Tanto, mas tanto, que quem chegasse de fora não entenderia nada, pensaria que estávamos em um momento único de descontração, o que de certa forma não deixa de ser verdade. Cheguei ao ponto de perder o controle, pois traçava metas para cada ensaio e as aplicava através dessas brincadeiras, que nós mesmos criávamos. Nem sempre ou quase nunca conseguia cumprir essas metas e hora por descontrole, hora por eu mesmo me contaminar com as brincadeiras, voltei a ser criança e me nivelei com os atores. Ao invés de transformá-los em dois adultos de 10, nos transformamos, eu e Felha, em duas crianças de 30. Essa interação foi fundamental no momento da filmagem.