sábado, 29 de maio de 2010

Hoje acordei com uma vontade danada de ir pra Cannes


Duas semanas após embarcarmos na maior viagem de nossas vidas, já sinto saudades dessa aventura. Após onze horas de vôo a concentração para a caminhada pelo tapete vermelho de Cannes foi indescritível. Observava as pessoas esperando, fotos e mais fotos. Não fazia a menor ideia do que estava por vir. No dia seguinte, nossa primeira projeção para a crítica mundial me deixou bastante nervoso. Sabia que se apenas um dos críticos soltasse um comentário de desagrado, isso poderia dar início a uma reação em cadeia que seria difícil de contornar, mas ao contrário o que os jornais do Brasil e do mundo noticiaram foi muito positivo, até mais que esperava.

Após uma tarde inteira de entrevistas, fomos para a primeira projeção pública do filme. Do alto da sala onde aguardávamos o início da sessão era possível ver a fila para entrar, a primeira fila da minha vida. Esqueçam tudo que falei sobre a emoção de caminhar sobre o tapete vermelho. Essa caminhada tem uma simbologia muito sinistra, mas não chega nem aos pés da emoção real, se e que posso dizer assim, dos minutos antecessores à projeção.

Aguardávamos atrás da platéia quando o mestre de cerimônias começou a nos anunciar, um de cada vez. Fomos para diante do público e nesse momento quase já não me mantinha de pé. Após o Cacá agradecer a recepção e nos sentarmos nos lugares reservados, olhei pro lado e falei pro Cadu: vou chorar! Seus olhos encheram d'água e não resisti. Protegido pela sala escura chorei igual criança, igual Wesley e Orelha. Tentava esconder, mas não era necessário pois estava abafado pelo soluçar de todos diretores e elenco, que também se derretiam em lágrimas.

Ao final da primeira história o público aplaudia como se o filme já tivesse acabado. Cheguei até a ficar preocupado, pois os aplausos invadiam o início da segunda história e eu nada poderia fazer nessa espécie de tortura boa. Na primeira piada quando todos riram fiquei impressionado como o tempo dessa ação funcionou, mesmo em terras distantes, mesmo com a barreira da língua, mesmo com a legenda.

Quando os créditos finais subiram as pessoas começaram a nos aplaudir, primeiro sentadas, depois de pé, depois não paravam mais. Senti uma coisa estranha, ao mesmo tempo que esperava os aplausos se esgotarem, curtia aquele momento, aplaudia também e abraçava a equipe. Foi ótimo. Voltamos pra frente da platéia e começamos a dançar sobre a música tema. As pessoas riam, nos parabenizavam. Sentia uma coisa, assim, tipo missão cumprida.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fuzzcas e The Mothers...

Sábado à noite antes de sair de casa assisti o Revista do cinema nacional, na TV Brasil, onde foi exibida uma matéria com o 5x Favela, agora por nós mesmos. Essa foi a matéria mais completa das que assisti até agora. Com cenas do filme e depoimentos de todos os diretores e diretoras.

Passei na feira de Caxias e dei um bizoiada nas placas das comidas: galinha cabidela, cabrito na chuva, buchada de bode, mas o prato indicado pela própria dona da barraca foi feijão de corda. Depois parti pro Motoclube Veneno da Cobra, que fica ao lado da Faculdade FEUDUC. As bandas programadas eram Fuzzcas e The Mothers...

Antes de entrar parei pra beber uma gelada com os amigos. Se soubesse não jantava antes, porque tinha uma mina queimando uma carne, em comemoração ao seu aniversário no bar, e abastecia a gente a cada minuto. Entrei por volta de uma da manhã e assisti uns vídeos no telão. Depois o DJ Danilo começou a tocar e mandou só lado B. Mesmo o vídeo sendo do ex-vocalista do Stray Cats, Dj tocando ao vivo não tem como comparar.

Ao contrário da filipeta, a banda Fuzzcas foi a primeira a tocar. O figurino é bem bacana, com guitarra, baixo e batera vestidos de preto e branco e a vocal com um vestidinho e uma maleta cheia de objetos sonoros, ou não, que usava ao longo do show. Tudo bem amarrado e bem tocado. Seu rock me lembrou bastante Beatles, até porque eles fizeram covers deles e da Yoko.

Quando a banda The Mothers entrou, pensei em ir embora. Não porque ela fosse ruim, muito pelo contrário. Pelo horário mesmo. Passavam das três da manhã e não tenho mais disposição pra ficar tanto tempo acordado. He he he! Se bem que dá pra perceber um pequeno impacto do som completamente controlado do Fuzzcas para o ruidoso deles. Fui ficando e aos poucos me entregando ao show.

Antes de começar havia percebido que visualmente os integrantes não tinham nada haver um com o outro. O baixo/vocal usava um visual rocker, o baterista não tinha cara de roqueiro e o guitarrista muito menos. Sendo que o batera mudou completamente ao subir ao palco, me causando a impressão que ele era contagiado pela inquietude do vocal. Já o guitarra não expressava agitação, o que ficava bem interessante. Ele destoava do resto da banda compondo um cenário híbrido sem ser inconveniente, já que segurava muito bem nos rifes.

Fui embora na última música. Valeu a noite, não só por encontrar os amigos, mas principalmente pelo ótimo show do Mothers... Rock na veia mermo! Se cantassem em português gostaria mais ainda. Fiquei curioso em saber o que eles falavam das gurias.

É noise!

Cacau Amral
8 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Tensão. Agressão. Reconciliação.

Era uma vez
Uma vida que começou a mudar
No belo dia que cruzei aquele olhar
Sem esperar, me apaixonei
Ela era muito mais do que um dia eu sonhei
Me casei
Seu pai me trouxe sua mão
Me incumbiu da missão de lhe dar proteção
A possuí em meus braços e cumpri o ritual
Minha princesa de cristal

Até que um belo dia houve a primeira briga
Nada demais, uma pequena intriga
Mas como dor de barriga, não foi só uma vez
Em menos de um mês foram duas...
Três...
Era conversando que a gente se resolvia
Gritava
Mas só que nunca batia
Desculpe
Nunca mais vou te xingar
A partir de hoje vou apenas te amar

Mas a danada da rotina só trazia mais tensão
E dessa vez não foi só um palavrão
Ingenuamente ela tentou revidar
Empurrei-lhe uma vez
E voltei empurrar
Com o corpo mais frágil
Cada vez mais acuada
Foi ficando agressiva
Não media as palavras
Fui criado para não aceitar desaforo
O sangue encheu meu olho e...
Capotei-lhe um soco

Os vizinhos achavam que aquilo era normal
Não meteriam a colher em briga de casal
Prometo melhorar
Aconteça o que aconteça, me perdoe.
Onde estava com a cabeça?
Fui parar na delegacia algemado
Mas não foi nada difícil convencer o delegado
Foi ele mesmo quem propôs a solução
Um novo perdão
E conseqüente reconciliação...

Preferia que tivesse me trancado
Não teria voltado
E te estrangulado
Não extrapolaria os limites do jogo
Entre um buquê de rosas e uma arma de fogo
O que foi que eu fiz?
Onde isso começou?
Nunca desejei atirar em meu amor
Quem foi o mentiroso que escreveu esse roteiro?
E me transformou num assassinou traiçoeiro

Se pudesse voltar atrás
Não faria mais
É indescritível a falta que você me faz
Confesso que não sei quem foi que mais perdeu...
Mas sei quem ofendeu...
Mas sei quem foi que bateu...
Mas sei que quem matou fui eu.

domingo, 2 de maio de 2010

A pedra do meu sapato

A pedra do meu sapato
Incomoda muito a mim
A quadra tem muito buraco
E também te muito capim

O banheiro é um cubículo
O chuveiro está quebrado
Qualquer dia teremos que trazer pinico
E o cheiro também não é muito perfumado

Bom esporte é o futebol de salão
Fazer um gol, todo mundo jura
Mas tem muito cara grandão
Pra jogar, só de armadura

Cacau Amaral, 1980