quarta-feira, 23 de junho de 2010

Menino de rua

Um menino de rua querendo fugir do seu destino
Queria ser apenas mais um menino
Soltar pipa e rodar pião debaixo do sol
Jogar bola de gude e jogar futebol
Receber um pouco de carinho da sociedade
Ter o mínimo de afeto e dignidade
Quem sabe isso amenizaria a falta que faz?
Viver sem casa e o carinho dos pais
Saúde, escola, alimentação
Moradia digna, afeto, orientação
É o mínimo pra uma criança crescer sadia
E poder exercitar a sua cidadania

Menores carentes vítimas da exclusão
Acabam caindo nas garras da prostituição
Mas o mais estarrecedor é o fato de haver
Oportunistas se aproveitando de quem não tem o que comer
Esse fato denuncia a deformação moral
De adultos que compram um favor sexual
De crianças famintas abandonadas pelos pais
Pela sociedade, autoridades e mais

Se analisar-mos essa situação
Facilmente chegaremos a uma conclusão
Daqui pro futuro eu já poso prever
O que provavelmente poderá acontecer
Um futuro marcado por tensões sociais
Muito mais graves do que as atuais
Porque a vida está difícil
Mais difícil a cada dia
Mais moleques na rua com a barriga vazia

Menores a deriva sem um leme para se apoiar
São uma porta aberta, desprotegida
Para enfrentar um mundo difícil a valer
Um mundo louco que elas não conseguem entender
Não por falta de conhecimento
Mas sim de vida
Pois a média etária é cada vez mais reduzida
Num mundo de drogas e de criminalidade
Num mundo criado pela própria sociedade

Durante toda noite querer
Mas não poder ter
Um cobertor para tentar se proteger
Do frio que faz durante a madrugada
Tornando gelado o coração da molecada
Invadiram o abrigo debaixo da ponte
Distribuindo porrada e inventando um monte
Não adianta se explicar na hora da dura
Pros desgraçados detonadores da paz noturna
Por outro lado os traficantes ensinam como é que é
Aviãozinho pra descolar um qualquer
Qualquer merreca vai ser muito bem vinda
Pode ser em grana ou então em cocaína
Mão de obra barata que ainda mora distante
Pra quando rodar pros homi não queimar o traficante
De um lado os bandidos de outro policiais
O moleque no meio não tem nenhuma paz
Sofrendo de todas as formas, dia e noite, noite e dia
Chorando e tentando se esquivar da perseguição doentia
Essa é a sua opção pode escolher
Ser ladrão, mendigo ou então morrer

Moleque de rua, a culpa dessa desgraça não é sua
Moleque de rua, seu telhado tem estrelas e a luz da lua

Cacau Amaral (2000)