domingo, 17 de julho de 2011

UPP - Unidade de poesia dos pretos

Caminhando em frente a rodoviária ouvi um poeta cochichar com outro que acabara de descer do ônibus: "A repressão é forte, mas após às 10 da noite a gente vende quantos livros quiser."

Entendi que além da FLIP, Flipinha, Flipzona e Off Flip; existe uma outra feira acontecendo em Paraty. Não precisa ter olhos de águia para enxergar isso. Já no primeiro dia era possível ver o Borboleta de Mesquita vendendo suas histórias em quadrinhos; o casal de autores de cordel da Paraíba; o Chapolin; os poetas maloqueiristas... Fora uma porrada de gente que passa desapercebido aos nossos olhos. Uma porrada de autotes que se mantém uma semana em Paraty, sabe lá Deus como, vendendo e difundindo a literatura brasileira. Gritando "Vamos ler os poetas vivos!"

Longe dos holofotes essa galera faz a gente refletir sobre o que é mais ou menos relevante para a arte de nosso país. Seja em uma das mais badaladas mesas, onde Joe Sacco difundia seu jornalismo da ilha de Malta, que nos transporta direto pras batalhas da Faixa de Gaza com suas atmosferas em quadrinhos que cospem em nossa insistência por colocar panos quentes no mito da objetividade. Seja nas mesas do pequeno Zaratustra, onde o poeta da praia do sono divide seus microcontos e desaforismos com a plateia.

Sérgio Vaz e sua trupe simplesmente detonaram o sarau do Zaratustra na noite de sábado. De longe o melhor momento da semana. Os poetas do Cooperiferia rasgaram a boca com sua arte descaradamente engajada, como eles mesmos berraram ao microfone. "Não nos peçam a paz porque queremos guerra". Ou ainda: "Vamos implantar a nossa UPP - Unidade de poesia dos pretos".

 

[caption id="attachment_1157" align="alignnone" width="612" caption="Cooperiferia no sarau. Arte descaradamente engajada - Cacau Amaral na Flip"]Cooperiferia no sarau. Arte descaradamente engajada[/caption]

[caption id="attachment_1158" align="alignnone" width="612" caption="Off Flip - Microcontos diretos da Praia do Sono no Zaratustra - Cacau Amaral na Flip"]Off Flip - Microcontos diretos da Praia do Sono no Zaratustra[/caption]

[caption id="attachment_1159" align="alignnone" width="612" caption="Público assiste David Byrne por trás da grade - Cacau Amaral na Flip"]Público assiste David Byrne por trás da grade[/caption]

Quem diria

5 horas
Já estou acordado
5 e vinte
Caminhando pela rua
À luz da lua
Os braços cruzados ajudam a suportar o frio
Perdi um trem
Tá com fo-me
Tá com fo-me
"Trem com destino à Central do Brasil. 5 e 44, plataforma B"
Lotado
Lembrei de Solano Trindade
Tá com fo-me
Tá com fo-me
Daqui a pouco estou na Central
"Aê! Me vê um pastel e um caldo"
Quem diria
Que seria
Poesia
O dia a dia
Da periferia

Quem diria

5 horas
Já estou acordado
5 e vinte
Caminhando pela rua
À luz da lua
Os braços cruzados ajudam a suportar o frio
Perdi um trem
Tá com fo-me
Tá com fo-me
"Trem com destino à Central do Brasil. 5 e 44, plataforma B"
Lotado
Lembrei de Solano Trindade
Tá com fo-me
Tá com fo-me
Daqui a pouco estou na Central
"Aê! Me vê um pastel e um caldo"
Quem diria
Que seria
Poesia
O dia a dia
Da periferia