
Duas semanas após embarcarmos na maior viagem de nossas vidas, já sinto saudades dessa aventura. Após onze horas de vôo a concentração para a caminhada pelo tapete vermelho de Cannes foi indescritível. Observava as pessoas esperando, fotos e mais fotos. Não fazia a menor ideia do que estava por vir. No dia seguinte, nossa primeira projeção para a crítica mundial me deixou bastante nervoso. Sabia que se apenas um dos críticos soltasse um comentário de desagrado, isso poderia dar início a uma reação em cadeia que seria difícil de contornar, mas ao contrário o que os jornais do Brasil e do mundo noticiaram foi muito positivo, até mais que esperava.
Após uma tarde inteira de entrevistas, fomos para a primeira projeção pública do filme. Do alto da sala onde aguardávamos o início da sessão era possível ver a fila para entrar, a primeira fila da minha vida. Esqueçam tudo que falei sobre a emoção de caminhar sobre o tapete vermelho. Essa caminhada tem uma simbologia muito sinistra, mas não chega nem aos pés da emoção real, se e que posso dizer assim, dos minutos antecessores à projeção.
Aguardávamos atrás da platéia quando o mestre de cerimônias começou a nos anunciar, um de cada vez. Fomos para diante do público e nesse momento quase já não me mantinha de pé. Após o Cacá agradecer a recepção e nos sentarmos nos lugares reservados, olhei pro lado e falei pro Cadu: vou chorar! Seus olhos encheram d'água e não resisti. Protegido pela sala escura chorei igual criança, igual Wesley e Orelha. Tentava esconder, mas não era necessário pois estava abafado pelo soluçar de todos diretores e elenco, que também se derretiam em lágrimas.
Ao final da primeira história o público aplaudia como se o filme já tivesse acabado. Cheguei até a ficar preocupado, pois os aplausos invadiam o início da segunda história e eu nada poderia fazer nessa espécie de tortura boa. Na primeira piada quando todos riram fiquei impressionado como o tempo dessa ação funcionou, mesmo em terras distantes, mesmo com a barreira da língua, mesmo com a legenda.
Quando os créditos finais subiram as pessoas começaram a nos aplaudir, primeiro sentadas, depois de pé, depois não paravam mais. Senti uma coisa estranha, ao mesmo tempo que esperava os aplausos se esgotarem, curtia aquele momento, aplaudia também e abraçava a equipe. Foi ótimo. Voltamos pra frente da platéia e começamos a dançar sobre a música tema. As pessoas riam, nos parabenizavam. Sentia uma coisa, assim, tipo missão cumprida.